Lá pelos idos de 2000, quando tinha uns nove anos, lembro-me de ter escutado o timbre de uma voz memorável: meu irmão, Di, estava escutando Live on Two Legs num volume intenso em nosso quarto. Era meu primeiro contato com o Pearl Jam (do qual me recordo).
Quinze anos passados, a banda finalmente aportou em território mineiro. E não pude deixar de experimentar uma sensação semelhante àquele momento quando Ed falou em seu português minguado: “Vamos começar dizendo algo que nunca dissemos antes: E aí Belo Horizonte?”.
Bandeiras de Minas foram agitadas com empolgação e veio uma sequência destruidora: Small Town, Go, Mind Your Manners e Once. Nessa última, a empolgação contagiou Ed que, a certa altura, lançou o microfone para os fãs na pista cantarem. Got Some e Rearviewmirror ainda completaram a sequência de abertura fazendo o público delirar.
Given to Fly trouxe consigo belíssimas imagens aéreas de Belo Horizonte captadas por um drone, num momento no qual o setlist foi invadido por músicas menos conhecidas do grande público, como Pilate, Infallible, I’m Open e Satan’s Bed.
Por mais de uma vez, Ed falou a respeito da catástrofe em Mariana, lamentando o fato de que, mesmo após o ocorrido, as empresas continuarão a lucrar. Disse, ainda, que os cachês do show seriam doados às vítimas atingidas. Trata-se de mais um gesto humano de uma banda com longo histórico de engajamento político, ambiental e, principalmente, social.
O Pearl Jam sustenta a Vitalogy Foundation, instituição muito ativa em diversos campos, além de se envolver com campanhas sociais (pro-choice, pro-vote) e anti-belicistas (contra a guerra do Iraque). Fora isto, ainda foram alguns dos artistas que fizeram ostensiva campanha a favor de Obama e contra Bush filho (Bu$hleaguer, World Wide Suicide), demonstrando que entendem a importância de artistas se posicionarem politicamente.
No primeiro bis, um set acústico com uma ótima sequência: Bee Girl, Sleeping by Myself, Imagine e Sirens, acompanhadas pelas vozes do público em altíssimo volume. Seguiu-se uma homenagem à tragédia francesa com um cover de Eagles of Death Metal - I Want You So Hard e, depois, Do the Evolution. Entre Corduroy e Porch, ainda houve tempo para uma surpresa curiosa: Stone cantando Mankind, algo raro de se presenciar.
Garden e Confortably Numb abriram o último terço do show, seguidas dos usuais hits de despedida. Ed ainda se referiu à capital como ‘BH’, numa intimidade que construíra com o público ao longo do show, comentando o lindo fato de ter jovens crianças nos ombros de seus pais ainda nas primeiras filas da pista.
A insana lógica de lucro capitalista foi comentada novamente por Ed, lembrando que o desenvolvimento usado como justificativa parece alcançar pequena parcela da população, enquanto os danos chegam a todos. A mesma lógica que não permitiu meu irmão estar no show comigo ou destruiu a vida de milhares de pessoas de Minas Gerais.
E ainda destruirá outras tantas.
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