“Um cocheiro filósofo
costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto se todos pudessem andar
de carruagem”.
Memórias Póstumas de
Brás Cubas
Enfim, teve golpe. Assim acaba o mais duradouro período democrático moderno brasileiro. Minha geração foi recordista.
Meus cumprimentos a todos os envolvidos, direta e indiretamente, no golpe dado no Brasil. Vocês colocaram um sujeito ficha-suja no poder (isto é, se amanhã houvessem eleições, ele não poderia nem se candidatar).
Meus cumprimentos a todos os envolvidos, direta e indiretamente, no golpe dado no Brasil. Vocês colocaram um sujeito ficha-suja no poder (isto é, se amanhã houvessem eleições, ele não poderia nem se candidatar).
Deputados, senadores, magistrados, "jornalistas", "colunistas",
parte da sociedade civil. Vocês conseguiram de maneira notória.
E como eu era inocente. Desde 2011 venho alertando sobre a
escalada do golpe, mas, no fundo, nunca achei que realmente era viável
concluí-lo no Brasil do século XXI – uma das principais economias globais, o
país mais forte do bloco da UNASUL (ou era, ao menos), um exemplo para o mundo
em relação a políticas sociais e de combate à fome, como disse a ONU...
Na era da internet, subestimei o poder da mídia oligárquica
hegemônica em terras nacionais. Eles souberam usar a internet para dividir e
conquistar – mais clássico, impossível. Dividiram a sociedade, dividiram a
esquerda, dividiram os progressistas, dividiram os estudantes. Enquanto isso,
panfletos políticos semanais, jornais que não deveriam assim serem chamados
e as "grandes" emissoras trataram de desmobilizar o povo. Quando as ruas notaram o golpe rasteiro em curso, ele já estava muito bem encaminhado.
Alguns sucumbiram à inocência. Outros à desinformação.
Outros ao desânimo. Outros à incoerência. Outros ao ódio de classe. Outros ao
macarthismo. Outros à má-fé. Outros à vaidade intelectual.
Num dos movimentos mais sutis e geniais, conseguiram emplacar a impressão de polarização política, fazendo com
que muitos não se entregassem a nenhuma causa, achando que, assim, seriam mais
justos e razoáveis. Fizeram com que naõ se percebesse que a luta não era esquerda X direita, PT X
PSDB-PMDB, democracia X golpe. Era tão somente a velha luta de classes com roupagem de século XXI, ou
melhor dizendo, interesses do povo X a força do capital.
“Em tempos de tamanha
globalização da informação, a repercussão internacional não permitirá o golpe”,
pensava eu. Inocente, mais uma vez. Toda a denúncia feita nos cinco continentes e o apoio recebido
dos mais diversos setores da sociedade, desde prêmio Nobel até Pulitzer, não
foram suficientes frente à maior força já inventada na história da humanidade:
o dinheiro.
Por meio de esquemas de toda sorte, os deputados, os
senadores, o STF, a mídia oligárquica, os três poderes, a sociedade civil,
foram todos colocados de joelhos. Vocês, golpistas, deixariam Huxley, Bradbury e Orwell
boquiabertos.
E, como sempre, o fardo está sobre os mais pobres. Em tempos de crise e instabilidade política, uns deixam de viajar para o exterior, outros deixam de almoçar todo dia. Nas periferias, favelas e morros é onde o golpe dói mais.
Mas talvez, agora, a sociedade brasileira tenha evoluído em
alguns aspectos. Talvez tenha sido entendido que a agenda social de um governo que
olha também pelos mais necessitados não consegue conviver muito tempo com os
detentores do grande capital sem que surjam conflitos de interesse.
Talvez tenha entendido a importância da união
latino-americana frente aos interesses do capital. Honduras e Paraguai já
haviam alertado o continente sobre os tempos que vivíamos. Não demos ouvidos.
Talvez agora as pessoas reconheçam que não se trata de mera casualidade o fato
de o governo federal brasileiro ser o terceiro a cair na América Latina num
período de menos de 10 anos.
Mas, será que entendemos mesmo? Ou estou sendo inocente mais uma vez?
Como um animal que sabe da floresta, memória
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia
Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia
Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como fosse dor, magia
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia
Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia
Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como fosse dor, magia
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